BAGAGEM SEM FIM - PARATY


Bagagem sem fim em Paraty


Dia 28 de agosto de 2015– Sexta-feira

Lembram da adolescente que achava ser incapaz de sobreviver à um fim de semana sem internet? Isso! Renata, ela mesma! Pois não é que, incrivelmente, ela sobreviveu sem traumas à última experiência aterradora e ainda topou participar de mais uma?!

Às 19:00 em ponto estávamos, animadíssimas, de malas prontas esperando o Rodrigo chegar do trabalho e então partirmos para mais um camping!

Nossa animação foi abalada pela bronca que levamos do  Rodrigo:

“Vocês vão levar tudo isso??? Vocês vão passar um fim de semana acampando!!! Vocês não estão de mudança! Por que essa bagagem sem fim???”


Realmente percebi que tínhamos exagerado bastante. Logo eu, que sempre fui nomeada a contida em bagagens da família... Não sei o que houve, acho que a culpa foi da previsão do tempo que dizia que ia fazer calor durante o dia e frio a noite... Aí veio o problema... Roupa de frio e de calor...

Colocamos tudo no carro! Mala super lotada! Renata esmagada atrás e eu cheia de sacolas nos meus pés!
Entre uma mala e outra, lá fomos nós!



O trânsito, comparado às outras viagens, estava bom. O que eu não sabia é que tinha tanta curva até Paraty! São horas de estrada com curvas. E assim ouvimos muitas vezes da Renata:

“Falta muito para chegar? Eu odeio curvas!! Me lembrem de nunca mais ir para Paraty!”



E, além das curvas intermináveis, há muitos quebra-molas! O que acabou atrasando a viagem pois toda hora o Rodrigo era obrigado a diminuir a velocidade... E a cada vez que ele diminuía a velocidade, a Renata aproveitava e abria a janela para respirar ar puro e melhorar do enjoo.

Depois de muitas curvas, reclamações, quebra-molas, aberturas de janela, chegamos ao nosso destino!

Porém, ao chegarmos ao camping, Rodrigo e Renata não gostaram do que viram: muitas barracas e trailers, muito próximos uns dos outros. Resolvemos então dar uma chance ao próximo camping.

Todos concordamos que este era melhor: poucas barracas e silêncio.

Rodrigo, que já se tornou um expert no assunto “montar barracas”, montou rapidamente nossas duas moradas: uma em frente a outra. Eu, como boa esposa, ajudei passando os objetos pedidos.

Devidamente instalados, fizemos um lanche e dormimos a 1:30.

 Dia 29 de agosto de 2015– Sábado

Acordamos às 9:30 e tomamos nosso café da manhã estilo piquenique.

Colocamos roupas de caminhada e, animados, Renata nem tanto, fomos de carro até uma padaria. Lá compramos água e perguntamos onde iniciava a trilha da Praia do Sono. Explicações recebidas, pegamos o carro e fomos! Seguimos pela Rio-Santos até o condomínio Laranjeiras, o começo da trilha fica numa vila logo após este condomínio.

Paramos numa praça de onde se via uma grande subida: início da nossa trilha! Renata, quando viu a subida, já começou a sofrer por antecedência:

“Oh não! Subida! Vou me cansar muito... Detesto subida! Detesto andar! Detesto sol! Detesto fazer trilha!”

Como podem perceber, a lista de “detesto!” era bem grande!



Rodrigo e eu, “quase quarentões”, como ele adora lembrar, encaramos a subida numa boa, mas a adolescente reclamava sem parar e só sorria para tirar fotos.



Depois de 20 minutos de subida, ela não mais andava, se arrastava e dizia:
“Não aguento mais... Chega! Por que eu vim?”



Depois de duas horas de caminhada, ouvindo a Renata se lamuriando, chegamos!
Estávamos ansiosos para conhecer a famosa Praia do Sono, “um local praticamente intocado pela civilização”, como havíamos lido em vários sites.

 



Já conseguia nos vislumbrar naquele paraíso deserto, ouvindo apenas o barulho das ondas e do vento. Já pensava em pedir para o Rodrigo e Renata falarem pouco para curtir o silêncio, quando me deparei com uma cena bem diferente dos meus sonhos: a Praia do Sono era um pesadelo, se julgada pela quantidade de pessoas e barulho!!!

A orla estava lotada! Muitas pessoas fazendo piqueniques, outras jogando queimado ou frescobol, outras deitadas em redes... Difícil foi encontrar um lugar um pouco mais sossegado para nos instalarmos. Que decepção! Que mundo super povoado! Está ficando cada vez mais difícil encontrar um lugar onde não haja muita gente!

Sentamos numa sombra de uma árvore. Rodrigo se aventurou a entrar no mar. A água, muito fria, me desanimou...

Lanchamos pão e biscoitos. Fizemos yoga. Passeamos pela praia até um local onde há muitas pedras. Tiramos fotos, muitas fotos. Rodrigo deu mais um mergulho.







14:30 – Chegamos à conclusão de que era hora de começar a voltar.

Felizmente a volta era praticamente só descida! Renata reclamou bem menos! Ufa! Mas ainda assim, de vez em quando perguntava:

“Falta muito? Estou tão cansada...”

Chegamos ao final da trilha e percebemos que nossos estômagos clamavam por comida! Resolvemos almoçar em Trindade, a apenas 30 minutos dali.

Deixamos o carro num estacionamento, no qual a atendente nos disse, muito solícita:

“Fiquem à vontade! Fiquem à vontade até às 18:00.”

Que horas eram? 17:00!! Saímos correndo a procura de um restaurante! Felizmente logo encontramos um muito bom! Comemos arroz, feijão, farofa, bife de soja, omelete e salada! Tudo estava uma delícia!

Como podíamos ficar à vontade até às 18:00, nem tivemos tempo de passear pelo vilarejo... Não tiramos uma foto se quer! Como posso provar que lá estive sem uma foto??

Voltamos para o camping e tomamos um desejado banho. E então percebi que já havia anoitecido e a temperatura estava agradável. Onde foi parar o frio que a previsão do tempo previu?? Fui obrigada a ouvir:

“Tá vendo? Exagerada! Olha só quanta roupa de frio você podia não ter trazido...”

Fomos a pé até o centro. Andamos bastante pelas ruas históricas de Paraty. Sentamos perto da igreja, tiramos fotos.

Depois de muito andar, sentimos fome novamente. Comemos uma deliciosa pizza margherita!

Cansados, voltamos para o camping. Programamos dormir cedo. Mas... Estava tendo uma festa de 15 anos no camping! Por que somos perseguidos por festas em acampamentos? Será algum tipo de karma? Logo nós, amantes do silêncio e sossego!?

Felizmente o som estava baixo. Mas, assim que deitamos, às 23:00, o DJ disse, em alto e bom som:

“A pista de dança está aberta, galera! Vamos dançar! Música até às 2:00!”

E assim foi: música alta até às 2:00! Rodrigo reclamou um pouco mas logo dormiu. No dia seguinte soube que Renata logo apagou também. Eu fui a única a acompanhar os hits tocando...


Dia 30 de agosto de 2015– Domingo

Levantamos novamente às 9:30 . Depois do café, fizemos o trabalho duro de quem acampa: desmontamos as barracas, limpamos tudo, guardamos tudo no carro. E “tudo” era muita coisa desta vez!! Graças à meteorologia!!

12:00 – Tudo devidamente organizado! Fomos para o centro novamente a pé.









Mais uma vez caminhamos bastante pelo centro histórico. Almoçamos num restaurante de comida a quilo. A comida era bem insossa...

De sobremesa comemos brigadeirão, que é vendido em carrinhos a cada esquina do centro.

Compramos dois vidros de pimenta, chaveiros de lembrança e brincos de uma vendedora indígena. A cidade é repleta de índios e indiozinhos vendendo brincos, colares, cestas e os mais variados enfeites.

Voltamos para o camping para pagar nossa estadia e pegar o carro.

Pegamos a estrada às 16:00. E, ao contrário da ida, pegamos longos engarrafamentos o tempo todo!

Chegamos em casa às 21:00.











NO LIMITE - TRAVESSIA SERRA NEGRA - PNI

NO LIMITE - TRAVESSIA SERRA NEGRA

Dia 04 de setembro de 2015 - Sexta-feira

Mochilas cargueiras devidamente arrumadas com roupas de frio, isolante, isolante inflável, saco de dormir, fogareiro, gás, panelas, pratos, copos, talheres, água e comida, muita comida! Mochila do Rodrigo pesando 22 kgs e a minha 13 kgs!
Saímos de casa às 17:00, apesar de todos os pedidos de familiares e amigos para desistirmos, rumo à nossa primeira travessia!! Diziam eles:
"-Que loucura! Que irresponsabilidade! Vocês dois sozinhos! E se acontece alguma coisa com um dos dois? O outro vai caminhar horas para pedir ajuda?"
Confiantes de que tudo daria certo, lá fomos nós!
Chegamos à Maromba às 22:00, quase na mesma hora em que a chuva começou. Passamos 40 minutos tentando encontrar a pousada que o Rodrigo tinha reservado. Pedimos informação para uns rapazes que estavam conversando num portão e depois numa pizzaria. Ninguém nunca tinha ouvido falar da tal pousada... Até que finalmente uma alma iluminada sabia onde era a rua da pousada e nos indicou como chegar lá! Imagine um local bem distante e escondido! Imaginou?
Pois era bem pior! Ficava no topo de um morro, estrada de barro, nenhuma iluminação na rua. Quando chegamos a rua da pousada, não conseguíamos saber onde ela estava... Não havia placa ou luz alguma para indicá-la! Chovia forte. Dei ideia de sairmos do carro e chamarmos pelo nome do dono da pousada. E assim o Rodrigo fez. Berrou a plenos pulmões:
-"Emilianooooooooo"
Para nossa alegria, o chamado teve resposta:
-"Rodrigo???"
E foi assim que encontramos a pousada! Ufa!
Colocamos nossas mochilas nas costas e subimos um barranco até a pousada. O dono, muito simpático, conversava conosco animadamente! Já bufávamos, quando chegamos. Tive medo de imaginar como seria o quarto depois de termos sido apresentados ao "banheiro seco": uma pequena construção de madeira abrigava uma latrina. Ao lado havia uma serragem para o usuário jogar duas canecas do produto caso fizesse "nº 2". Atravessamos um cômodo cheio de garrafas vazias e chão de terra, ele nos informou animado:
"-O quarto de vocês é aqui em cima!"
Subimos 6 degraus de troncos de madeira e tcharam! Para nossa surpresa, o quarto era bem aconchegante! Havia apenas uma cama de casal em cima de um estrado, mas ainda assim era bem melhor do que eu podia imaginar na minha visão mais otimista! O quarto era todo de madeira, com uma janela de vidro de ponta a ponta do lado esquerdo.
Deixamos nossas mochilas no quarto e fomos tomar banho. O banheiro  ficava a uns 15 metros do quarto e era bastante rústico: paredes de madeira e um tecido azul servia como porta. A água felizmente era morninha, mas tinha um vento frio que cismava de passar pelos cantos da porta de tecido... Voltamos para o quarto, sempre seguidos pelo simpático gato do dono da pousada. Demos mais uma organizada nas mochilas e deitamos a meia-noite. O silêncio e a escuridão eram maravilhosos! Agradeci a Deus por estarmos num lugar tão sossegado! Só havia um problema: o quarto estava infestado de pequenas mariposas e era difícil dormir com as danadinhas caindo em cima da gente e com o zumbido das ditas cujas namorando ou brigando...
Acordei algumas vezes de madrugada. Chovia forte!
Obs: apesar dos pesares, gostamos bastante da pousada, mas a lista de pessoas que detestaria se hospedar nela é grande! Não conseguia deixar de imaginar minha amiga Renata se hospedando ali! Usando o banheiro seco, tomando banho no banheiro sem porta, o quarto repleto de mariposas, o barranco da chegada, o gato tentando entrar no quarto a cada vez que saíamos... Ela definitivamente odiaria aquele lugar!


















Dia 05 de setembro de 2015 - Sábado

Acordamos às 5:40. Estava bem frio. Colocamos calça e blusa segunda pele, fleece, casaco impermeável e fomos tomar café. O café foi servido na cozinha da casa do dono da pousada. Comemos pão integral com queijo minas, bolo e suco de laranja. Experimentamos batata yacon, que ele planta no quintal.
Muito simpático e animado, ele nos mostrou o quintal e suas plantações.  Quando percebemos, a hora tinha voado e já estávamos atrasados! Fechamos nossas mochilas, descemos o barranco, pegamos o carro e fomos até a Praça de Maromba. Era 7:20 e o taxista que nos levaria ao Parque Nacional de Itatiaia já estava nos esperando há 20 minutos. Trocamos os sapatos por duas meias (uma fina e uma grossa) e colocamos nossas botas especias de trilhas. A viagem demorou 2:20!
Chegamos ao posto marcão as 09:50, em cima do laço. Quando o táxi parou, um rapaz que trabalha no Parque, nos apressou dizendo:
-"Rápido, rápido! Vocês têm 10 minutos para preencher a ficha. Depois das 10:00 o Parque não permite a saída para a travessia!"


Preenchemos a ficha, fomos ao banheiro, organizamos a comida dentro das mochilas, que antes estava numa bolsa térmica. Outros 15 andarilhos também estavam acabando de organizar suas mochilas. Alguns detalhes de arrumação que só podem ser feitos de última hora. 

E então o momento tão esperado chegou: colocamos as mochilas nas costas e começamos a caminhar.
Fomos os últimos a iniciar a caminhada!
Andamos 3,5 kms até o nosso conhecido Abrigo Rebouças, onde congelamos na nossa primeira aventura, e confesso que o peso nas costas era tão desagradável que tive vontade de jogar a mochila longe e desistir enquanto era tempo! Mas, resolvi seguir adiante e testar meus limites!
Paramos uns 20 minutos no Abrigo Rebouças para o Rodrigo amarrar melhor meu saco de dormir pois ele estava caindo para a direita...  


E aí sim a travessia começou para valer! 
Após arrumarmos tudo e deixar a mochila bem regulada iniciamos nossa longa caminhada em direção a Maromba. Começamos por uma velha conhecida trilha que leva para 3 opções de caminho: Serra Negra, Pedra do altar e Agulhas Negras. Nosso primeiro desafio foi atravessar a mini represa pulando pedras com 22kg de mochila nas minhas costas e 13kg nas da Raquel. Bem, eu consegui passar com uma certa tranquilidade, mas Raquel, sempre com o enorme medo do peso da mochila, demorou um pouco mais.  
 Caminhamos, subimos, bufamos, paramos... E assim fomos seguindo até a base da Pedra do Altar.

































Encontramos com um casal muito animado que estava voltando de uma trilha. Perguntamos se tinham encontrado com alguém fazendo a mesma travessia que nós e eles disseram que todos já tinham passado por ali faz muito tempo. Realmente, conforme o guarda do Posto Marcão disse, todos já tinha iniciado muito antes de nós. 
Seguimos em frente, na esperança de avistar alguém na travessia, afinal eram quase 40 pessoas fazendo o mesmo caminho. Mas a primeira coisa que avistamos foi um elemento não muito agradável no meio da trilha(fezes), de onça ou de lobo guará.



Caminhamos mais um pouco e vimos um sapinho, simbolo do parque. 
De repente caiu uma neblina muito forte que cobriu toda a paisagem.


















Este trecho da trilha ainda era bem conhecido por nós pois foi onde, da última vez que estivemos no parque, nos perdemos tentando voltar da pedra do altar pelo Circuito dos 5 lagos. Neste momento, Raquel pensou em desistir de tudo. Achou horrível carregar aquela mochila pesada nas costas. É claro que, como uma excelente companheira de trilha, não falou nada no momento e seguiu em frente como uma guerreira. Cobrimos as mochilas com a capa, vestimos os casacos impermeáveiss e seguimos nosso caminho.
Raquel depois confessou que só conseguia se indagar: "O que estou fazendo aqui? Por que aceitei participar desta experiência? Por que não fiquei em casa? Poderia estar agora sentada confortavelmente no sofá, com as pernas esticadas, enrolada num edredom, sequinha, quentinha..."
Decidimos parar para comer, quando a chuva parou um pouco. E, é claro para descansar um pouco também sem as nossa queridas mochilas nas costas.
Mas a mãe natureza não nos ajudou muito. Logo que acabamos de esquentar nosso "delicioso" arroz com tudo dentro, começou a chover forte novamente. Tivemos que correr para cobrir a mochila e não deixar nada de fora para molhar! Infelizmente não deu para cobrir nossos pratos... E assim comemos o arroz mais aguado de nossas vidas!! Inclínávamos os pratos enquanto comíamos para a água da chuva escorrer um pouco... Comemos forçados para não passarmos fome.
Raquel disse que estava em dúvida de como se sentia: como um burro de carga, uma pagadora de promessas ou Jesus carregando a cruz... Só podia estar descontando karma fazendo esta travessia!
Desde a hora do nosso "delicioso almoço" começamos um trecho de trilha com muitas subidas e descidas, adentrando alguns trechos de mata não muito fechada, e sempre acompanhado de uma chuvinha bem chata. Trilha sempre bem marcada.







Caminhamos por muitas horas, entre subidas e descidas. Tinha ouvido várias pessoas citarem a cansativa subida da misericórdia e, quando chegamos numa tal subida achei que estávamos na Misericórdia. Então pensei que já tínhamos andando mais da metade da trilha pois geralmente nos relatos, esta subida ocorre no início do segundo dia da travessia. Mas se já estávamos tão adiantados, onde estavam as outras 35 pessoas que deveriam acampar na área do Matão(única área de acampamento permitida pelo parque nesta travessia)?? Ou melhor, onde estava a área do matão???
Foi então que chegamos a um pequeno descampado bem próximo ao rio Aiuruoca, que já tínhamos cruzado pelo caminho até aqui. Pensamos se deveríamos acampar ali mesmo ou procurar a tão falada área do matão.
Graças a uma decisão muito sábia(explicarei mais a frente) da minha querida esposa, decidimos acampar.
O tempo parecia estar fechando novamente e que iria cair um temporal.
Começamos a  montar a barraca. Mas a alegria não durou muito, pingos de chuva começaram a cair e tivemos que correr para colocar a cobertura da barraca, colocar o specs e ainda proteger as mochilas da chuva para não ficarmos com tudo encharcado, principalmente o saco de dormir e os isolantes que nos protegeriam do frio.
Corre para cá, corre pra lá, abre saco de dormir, joga dentro da barraca para não molhar. Raquel começou a ficar toda molhada, mesmo com o casaco impermeável, pois a chuva tinha apertado bastante. Roupa molhada no corpo em Itatiaia? Sinônimo de muito frio.  Raquel foi aos poucos entrando na barraca para não molhar os isolantes que já estavam protegidos da chuva lá dentro. Então ela foi no desespero tirando as roupas e tremendo de frio, entrando na barraca. Em seguida, foi a minha vez. Embora estivesse com roupas totalmente impermeáveis(casaco e calça), fiquei encharcado. Fui entrando na barraca, aos poucos, como fez a Raquel. Tirando as peças de roupa uma a uma para deixar do lado de fora da barraca.
Até que consegui entrar totalmente na barraca e ficar só de cueca. Fechamos o avanço e ainda começamos a arrumar a bagunça. Mas logo percebi que nem de cueca podia ficar, pois até esta estava molhada. Então nos perguntamos, para que servem estas roupas e botas impermeáveis se ficou tudo, absolutamente tudo que estávamos vestindo, molhado????

Raquel olhou pra mim e percebi que não estava com uma cara de muitos amigos...

-"Você está tão séria... Aconteceu alguma coisa?"

"- Não, está tudo ótimo, exceto que todas as minhas roupas estão encharcadas, todos os meus músculos estão doendo, ainda temos muito que caminhar amanhã! Está tudo perfeito!"

Depois de colocarmos tudo para dentro, colocamos as poucas roupas que tinham ficado secas.
Bem, Raquel usou a mesma da caminhada pois apenas o biquini resistiu intacto ao temporal. Logo o biquini!!
A noite prometia ser fria. Já era por volta das 18 horas, quando decidimos deitar um pouco para relaxar o corpo depois de tanto carregar peso, enquanto do lado de fora só chovia. Raquel perguntou se não entraria água na barrava. Garanti que não entraria, a menos que fossemos carregados por uma enxurrada do rio Aiuruoca.
 
Esticamos os casacos impermeáveis e uma calcinha (a menos olhada) para podermos usar no dia seguinte em cima das mochilas que ficaram em pé no meio dos nossos pés. 
Conversa vai, conversa vem e quando olhamos o relógio, já eram 21 horas. Decidimos então dormir para acordar mais dispostos a caminhar a outra "metade" da travessia. Dormimos ouvindo o barulho da chuva e do rio Aiuruoca.


Acordamos com uma manhã linda no nosso segundo dia de travessia.

















Tomamos nosso café da manhã, do jeitinho que a Raquel gosta. No chão, mato, estilo piquenique. Curtimos um pouco o local, que por sinal era bonito demais. Ao fundo, de frente para porta da barraca podíamos ver a Cachoeira Aiuruoca e, descendo um pouquinho(uns 20 mts) tínhamos nossa fonte de água natural para começar o dia. Terminamos o café e decidimos colocar algumas coisas para secar no sol que timidamente estava querendo se mostrar.




Começamos tirar as coisas de dentro da barraca para desmontar e arrumar na mochila. Quando olhamos o tanto de coisa para arrumar bateu um desânimo. Mas, aos poucos, fomos conseguindo colocar as coisas em ordem e dentro da mochila. A parte boa é que as roupas que precisávamos usar hoje secaram, mesmo com poucas horas de sol. O planejado era sair o mais rápido possível pois tínhamos que chegar ao final da travessia antes de anoitecer. Nas regras do parque, teríamos que estar na portaria de saída até as 17 horas.
Tudo arrumado, enchemos nossas garrafas de água e partimos para o nosso segundo dia de caminhada! 















 Imaginava eu que já tínhamos atravessado toda a Serra Negra. Mas estava enganado. A partir daquele ponto ainda foram muitas subidas e descidas. Passamos por alguns pontos marcados no GPS, como a cabana e porteiras. Encontramos com duas vacas na trilha a nossa frente e que cada vez que chegávamos perto elas fugiam. Parecia que iram nos acompanhar por muito tempo na trilha. Coitadas, ficariam perdidas das outras. Mas até que num determinado momento consegui ultrapassa-las e direciona-las de volta para a cabana, onde estavam as outras vacas. Passamos pela porteira e então deixamos aquele lindo vale onde acampamos. 












Começamos a subir e descer montanhas até finalmente chegarmos a tão falada área do matão. Foi nossa primeira civilização desde a saída da portaria marcão. Encontramos a pousada da Sônia, onde a maioria dos aventureiros pernoitam, quando não querem acampar e ter que carregar um enorme peso nas costas, como nós. 
A princípio, pensamos em não levar barraca nem saco de dormir e acessórios, pois poderíamos dormir na pousada.
Mas para nós, a melhor parte seria acampar sozinhos na paz e silêncio da montanha, onde os únicos barulhos seriam só a chuva, os pássaros e o rio. Tínhamos medo de não conseguir chegar a tempo na pousada e ser obrigado a acampar no mato mesmo, por isso também decidimos levar todo o equipamento de camping.
Logo que chegamos na entrada da pousada decidimos descansar um pouco. Repousamos as mochilas em uns sacos de areia de obra que estavam por ali. Logo apareceu um guia muito simpático que começou a conversar. Perguntamos se já tínhamos passado pela subida da misericórdia. Ele disse que ainda não e que era a próxima subida que teríamos. Bateu um desânimo e pensei talvez de fazer esta subida só no outro dia, na segunda feira. Mas Raquel não queria de jeito nenhum dormir ali na pousada porque não queria adiar o término da travessia. Já tinha chegado até ali, então queria seguir em frente e terminar logo.
Não sabíamos exatamente quantos kms já tínhamos andado até ali e nem quanto faltava. O guia nos informou que ainda faltavam 12 kms. Concluímos então que tínhamos caminhado 20kms. Raquel achou demais. Que não podíamos ter caminhado isso tudo só no primeiro dia. Mas a travessia tinha 32 kms e faltavam 12??? Enfim, continuamos sem saber ao certo quanto tínhamos andado. Só que faltavam 12kms. Só 12.
Quando descobrimos que ainda tínhamos que subir a misericórdia, pensamos em pedir um táxi para ir embora dali.
Quanto seria o táxi? O guia disse que ele até faria o nosso transporte, mas naquele dia não poderia. Mas que em média sairia uns 300 reais. Raquel olhou para mim e disse: Então vamos continuar a travessia. De táxi não. Se chegamos até ali era para terminar a travessia. Não poderíamos fazer pela metade. Concordei. Mas antes de sair, checamos se os celulares pegavam, já que estávamos perto da civilização, mas nada de sinal. Perguntei ao guia se tinha telefone na pousada e ele disse que tinha sim e que poderíamos usar, pagando uma taxa de R$5,00. Fomos então telefonar, na verdade, Raquel foi telefonar. Falei para ela que tinha que ligar rápido pois estávamos de favor e o objetivo era só dar um sinal de vida. Mas de que adianta? Queria contar toda a travessia naquele momento.
Foi então que algumas dúvidas surgiram. Um cheirinho maravilhoso de comida vindo da pousada. Uns outros aventureiros na pousada, aguardando almoço e outros dormindo ainda com as roupas secando no varal. Porque não poderíamos parar ali, comer e colocar tudo para secar e ainda dormir confortavelmente para subir a misericórdia só no outro dia? Porque Raquel queria ir embora de qualquer jeito. Só almoçar não daria tempo. Já era 1 da tarde e ainda tinha 12kms e a misericórdia para subir. Chegaríamos muito tarde em Maromba. Acho que com pena da gente, o guia nos falou que há um atalho para subir a misericórdia, que os tropeiros fazem para transportar queijos e outros produtos. Nos apontou a subida da misericórdia e disse que o caminho normal seria seguir um trecho de estrada por ali e depois começar a subir a tal montanha. Era alto o negócio. Seriam acho que 2kms de subida e mais um tanto até chegar a subida. Por este atalho, economizaríamos, segundo ele, 1,5 km. Ficamos empolgados com esta possibilidade, mas logo veio a lembrança de "atalho", o atalho que nos fez ficar perdidos por 5 horas no mato tentando voltar a pedra do altar pelo circuito dos 5 lagos. Perguntamos a ele se era tranquilo, bem marcado e tal. Ele disse que sim. Que os tropeiros passam muito então a trilha é bem marcada. Sigam sempre pela trilha do meio. Vão encontrar desvios mas não entrem. Um dado momento vocês vão encontrar a trilha original da misericórdia. Que ótimo, então vamos subir só este trecho e estaremos no topo da misericórdia!!! Que ótimo, eu pensei. O guia (Gilson) foi muito solicito e nos levou até o início da trilha. Agradecemos e seguimos adiante, com a dica de sempre sempre seguir em frente. A trilha era realmente bem marcada. 
Começamos então a tão falada subida da misericórdia. Começamos bem, achando até que terminaríamos em 1:30 como o guia disse. O começo era tranquilo e tinhamos ganhado um gás ao parada na pousada. Subimos, subimos e subimos até encontrar a trilha original, quando o negócio começou a ficar feio. As subidas, alternadas com raros trechos planos eram muito íngrimes e intermináveis. Quando faltava 500 mts para o fim, não consegui manter um ritmo e tinha que parar a cada 30 mts para descansar pelos menos 1 min. Este ultimos 500 metros pareciam intermináveis. Só víamos o alto todas as montanhas ficarem para baixo. 












A paisagem era linda e tivemos  o previlégio de ver orquídeas que só dão flores nas alturas.



E finalmente chegamos, caminhando e parando a cada 30 mts, na parte mais alta da montanha. Paramos um pouco para descansar e comer alguma coisa, afinal de contas ainda nem tínhamos almoçado. Raquel conseguiu comer 4 pães enquanto eu ainda mastigava o primeiro. Minha vontade de comer, ou pelo menos comer o que tínhamos ali, era mínima. Só consegui comer 1 pão e uma barrinha de chocolate. O frio começou a ficar intenso, ventava muito. Parecia que ia chover. Então decidimos descer logo.






Logo no começo da descida, paramos novamente para ir ao "banheiro" e decidi tomar um remédio para dor, pois minhas costas estavam doendo demais.



Felizmente, não choveu, mas começou a escurecer. Para não termos que parar novamente, colocamos as lanternas de cabeça e deixamos as lanternas de mão no bolso.





 Continuamos nossa descida até Maromba, só que agora na calada da noite. Não é aconselhável que se faça esta travessia noite, mas já estávamos na reta final. Trilha muito bem marcada e só descida.
Quando realmente ficou bem escuro, sentamos um pouco, desligamos as lanternas e apreciamos  a escuridão e o céu estrelado. Ouvíamos apenas o barulho da natureza.
Seguimos nossa descida, erramos alguns pequenos trechos e de repentecomeçamos a ver alguma civilização.  
No último km ouvi pela primeira vez da Raquel que não estava aguentando mais. Esse finalzinho estava realmente bem penoso. Parecia que nunca chegaríamos a praça de Maromba, onde deixei o carro para ser pego na volta. Perguntamos umas 3 vezes se estávamos indo na direção certa, pois a trilha no GPS já tinha acabado.
Finalmente, a civilização foi aumentando e chegamos na praça de Maromba. Nunca foi tão bom ver o carro.








Tiramos as mochilas e as botas e as jogamos no carro!! Ufa!! Livres do peso!! Eu estava faminto. Não almoçava desde o primeiro dia da travessia. Decidi que comeríamos uma pizza num restaurante bem em frente ao carro. Raquel ficou um pouco preocupada porque achou que não deixariam a gente entrar. Estávamos um "pouco sujos". Tiramos a bota e fomos comer. Nos hospedamos na primeira pousada que vimos e pedimos um quarto. A única pergunta que fizemos??
"Tem uma cama e um chuveiro quente??"

Banho quente e cama! Apagamos! 


Acordamos às 9:30. Os músculos e os pés ainda doiam... Tomamos café e fomos passear pela cidade.


Almoçamos na cidade vizinha: Visconde de Mauá.