NO LIMITE - TRAVESSIA SERRA NEGRA
Dia 04 de setembro de 2015 - Sexta-feira
Mochilas cargueiras devidamente arrumadas com roupas de frio, isolante, isolante inflável, saco de dormir, fogareiro, gás, panelas, pratos, copos, talheres, água e comida, muita comida! Mochila do Rodrigo pesando 22 kgs e a minha 13 kgs!
Saímos de casa às 17:00, apesar de todos os pedidos de familiares e amigos para desistirmos, rumo à nossa primeira travessia!! Diziam eles:
"-Que loucura! Que irresponsabilidade! Vocês dois sozinhos! E se acontece alguma coisa com um dos dois? O outro vai caminhar horas para pedir ajuda?"
Confiantes
de que tudo daria certo, lá fomos nós!
Chegamos à Maromba às 22:00, quase na mesma hora em que a chuva começou. Passamos 40 minutos tentando encontrar a pousada que o Rodrigo tinha reservado. Pedimos informação para uns rapazes que estavam conversando num portão e depois numa pizzaria. Ninguém nunca tinha ouvido falar da tal pousada... Até que finalmente uma alma iluminada sabia onde era a rua da pousada e nos indicou como chegar lá! Imagine um local bem distante e escondido! Imaginou?
Pois era bem pior! Ficava no topo de um morro, estrada de barro, nenhuma iluminação na rua. Quando chegamos a rua da pousada, não conseguíamos saber onde ela estava... Não havia placa ou luz alguma para indicá-la! Chovia forte. Dei ideia de sairmos do carro e chamarmos pelo nome do dono da pousada. E assim o Rodrigo fez. Berrou a plenos pulmões:
-"Emilianooooooooo"
Para nossa alegria, o chamado teve resposta:
-"Rodrigo???"
E foi assim que encontramos a pousada! Ufa!
Colocamos nossas mochilas nas costas e subimos um barranco até a pousada. O dono, muito simpático, conversava conosco animadamente! Já bufávamos, quando chegamos. Tive medo de imaginar como seria o quarto depois de termos sido apresentados ao "banheiro seco": uma pequena construção de madeira abrigava uma latrina. Ao lado havia uma serragem para o usuário jogar duas canecas do produto caso fizesse "nº 2". Atravessamos um cômodo cheio de garrafas vazias e chão de terra, ele nos informou animado:
"-O quarto de vocês é aqui em cima!"
Subimos 6 degraus de troncos de madeira e tcharam! Para nossa surpresa, o quarto era bem aconchegante! Havia apenas uma cama de casal em cima de um estrado, mas ainda assim era bem melhor do que eu podia imaginar na minha visão mais otimista! O quarto era todo de madeira, com uma janela de vidro de ponta a ponta do lado esquerdo.
Deixamos nossas mochilas no quarto e fomos tomar banho. O banheiro ficava a uns 15 metros do quarto e era bastante rústico: paredes de madeira e um tecido azul servia como porta. A água felizmente era morninha, mas tinha um vento frio que cismava de passar pelos cantos da porta de tecido... Voltamos para o quarto, sempre seguidos pelo simpático gato do dono da pousada. Demos mais uma organizada nas mochilas e deitamos a meia-noite. O silêncio e a escuridão eram maravilhosos! Agradeci a Deus por estarmos num lugar tão sossegado! Só havia um problema: o quarto estava infestado de pequenas mariposas e era difícil dormir com as danadinhas caindo em cima da gente e com o zumbido das ditas cujas namorando ou brigando...
Acordei algumas vezes de madrugada. Chovia forte!
Obs: apesar dos pesares, gostamos bastante da pousada, mas a lista de pessoas que detestaria se hospedar nela é grande! Não conseguia deixar de imaginar minha amiga Renata se hospedando ali! Usando o banheiro seco, tomando banho no banheiro sem porta, o quarto repleto de mariposas, o barranco da chegada, o gato tentando entrar no quarto a cada vez que saíamos... Ela definitivamente odiaria aquele lugar!
Dia
05 de setembro de 2015 - Sábado
Acordamos
às 5:40. Estava bem frio. Colocamos calça e blusa segunda pele,
fleece, casaco impermeável e fomos tomar café. O café foi servido
na cozinha da casa do dono da pousada. Comemos pão integral com
queijo minas, bolo e suco de laranja. Experimentamos batata yacon,
que ele planta no quintal.
Muito
simpático e animado, ele nos mostrou o quintal e suas
plantações. Quando percebemos, a hora tinha voado e já
estávamos atrasados! Fechamos nossas mochilas, descemos o barranco,
pegamos o carro e fomos até a Praça de Maromba. Era 7:20 e o
taxista que nos levaria ao Parque Nacional de Itatiaia já estava nos
esperando há 20 minutos. Trocamos os sapatos por duas meias (uma
fina e uma grossa) e colocamos nossas botas especias de trilhas. A
viagem demorou 2:20!
Chegamos
ao posto marcão as 09:50, em cima do laço. Quando o táxi parou, um
rapaz que trabalha no Parque, nos apressou dizendo:
-"Rápido,
rápido! Vocês têm 10 minutos para preencher a ficha. Depois das
10:00 o Parque não permite a saída para a travessia!"
Preenchemos
a ficha, fomos ao banheiro, organizamos a comida dentro das mochilas,
que antes estava numa bolsa térmica. Outros 15 andarilhos também
estavam acabando de organizar suas mochilas. Alguns detalhes de
arrumação que só podem ser feitos de última hora.
E
então o momento tão esperado chegou: colocamos as mochilas nas
costas e começamos a caminhar.
Fomos
os últimos a iniciar a caminhada!
Andamos
3,5 kms até o nosso conhecido Abrigo Rebouças, onde congelamos na
nossa primeira aventura, e confesso que o peso nas costas era tão
desagradável que tive vontade de jogar a mochila longe e desistir
enquanto era tempo! Mas, resolvi seguir adiante e testar meus
limites!
Paramos
uns 20 minutos no Abrigo Rebouças para o Rodrigo amarrar melhor meu
saco de dormir pois ele estava caindo para a direita...
E aí sim a travessia começou para valer!
Após
arrumarmos tudo e deixar a mochila bem regulada iniciamos nossa longa
caminhada em direção a Maromba. Começamos por uma velha conhecida
trilha que leva para 3 opções de caminho: Serra Negra, Pedra do
altar e Agulhas Negras. Nosso primeiro desafio foi atravessar a mini
represa pulando pedras com 22kg de mochila nas minhas costas e 13kg
nas da Raquel. Bem, eu consegui passar com uma certa tranquilidade,
mas Raquel, sempre com o enorme medo do peso da mochila, demorou um
pouco mais.
Caminhamos, subimos,
bufamos, paramos... E assim fomos seguindo até a base da Pedra do
Altar.
Encontramos
com um casal muito animado que estava voltando de uma trilha.
Perguntamos se tinham encontrado com alguém fazendo a mesma
travessia que nós e eles disseram que todos já tinham passado por ali faz
muito tempo. Realmente, conforme o guarda do Posto Marcão disse,
todos já tinha iniciado muito antes de nós.
Seguimos
em frente, na esperança de avistar alguém na travessia, afinal eram
quase 40 pessoas fazendo o mesmo caminho. Mas a primeira coisa que
avistamos foi um elemento não muito agradável no meio da
trilha(fezes), de onça ou de lobo guará.
Caminhamos
mais um pouco e vimos um sapinho, simbolo do parque.
De repente caiu uma neblina muito forte
que cobriu toda a paisagem.
Este
trecho da trilha ainda era bem conhecido por nós pois foi onde, da
última vez que estivemos no parque, nos perdemos tentando voltar da
pedra do altar pelo Circuito dos 5 lagos. Neste momento, Raquel pensou em desistir
de tudo. Achou horrível carregar aquela mochila pesada nas costas. É
claro que, como uma excelente companheira de trilha, não falou nada
no momento e seguiu em frente como uma guerreira. Cobrimos as mochilas
com a capa, vestimos os casacos impermeáveiss e seguimos nosso caminho.
Raquel
depois confessou que só conseguia se indagar: "O que estou
fazendo aqui? Por que aceitei participar desta experiência? Por que
não fiquei em casa? Poderia estar agora sentada confortavelmente no
sofá, com as pernas esticadas, enrolada num edredom, sequinha,
quentinha..."
Decidimos parar
para comer, quando a chuva parou um pouco. E, é claro para descansar
um pouco também sem as nossa queridas mochilas nas costas.
Mas a mãe natureza não nos ajudou muito. Logo que acabamos
de esquentar nosso "delicioso" arroz com tudo dentro, começou
a chover forte novamente. Tivemos que correr para cobrir a mochila e não
deixar nada de fora para molhar! Infelizmente não deu para cobrir nossos pratos... E assim comemos o arroz mais aguado de nossas vidas!! Inclínávamos os pratos enquanto comíamos para a água da chuva escorrer um pouco... Comemos forçados para não passarmos fome.
Raquel disse que estava em dúvida de como se sentia: como um burro de carga, uma pagadora de promessas ou Jesus carregando a cruz... Só podia estar descontando karma fazendo esta travessia!
Desde
a hora do nosso "delicioso almoço" começamos um trecho de
trilha com muitas subidas e descidas, adentrando alguns trechos de
mata não muito fechada, e sempre acompanhado de uma chuvinha bem
chata. Trilha sempre bem marcada.
Caminhamos
por muitas horas, entre subidas e descidas. Tinha ouvido várias pessoas citarem a cansativa subida da misericórdia e,
quando chegamos numa tal subida achei que estávamos na Misericórdia. Então
pensei que já tínhamos andando mais da metade da trilha pois
geralmente nos relatos, esta subida ocorre no início do segundo dia
da travessia. Mas se já estávamos tão adiantados, onde estavam as
outras 35 pessoas que deveriam acampar na área do Matão(única área
de acampamento permitida pelo parque nesta travessia)?? Ou melhor,
onde estava a área do matão???
Foi então que chegamos a um
pequeno descampado bem próximo ao rio Aiuruoca, que já tínhamos
cruzado pelo caminho até aqui. Pensamos se deveríamos acampar ali
mesmo ou procurar a tão falada área do matão.
Graças
a uma decisão muito sábia(explicarei mais a frente) da minha
querida esposa, decidimos acampar.
O
tempo parecia estar fechando novamente e que iria cair um temporal.
Começamos
a montar a barraca. Mas a alegria não durou muito,
pingos de chuva começaram a cair e tivemos que correr para colocar a
cobertura da barraca, colocar o specs e ainda proteger as mochilas da
chuva para não ficarmos com tudo encharcado, principalmente o saco
de dormir e os isolantes que nos protegeriam do frio.
Corre
para cá, corre pra lá, abre saco de dormir, joga dentro da barraca
para não molhar. Raquel começou a ficar toda molhada, mesmo com o
casaco impermeável, pois a chuva tinha apertado bastante. Roupa molhada
no corpo em Itatiaia? Sinônimo de muito frio. Raquel foi aos poucos entrando na barraca para não molhar os isolantes que
já estavam protegidos da chuva lá dentro. Então ela foi no
desespero tirando as roupas e tremendo de frio, entrando na barraca.
Em seguida, foi a minha vez. Embora estivesse com roupas totalmente
impermeáveis(casaco e calça), fiquei encharcado. Fui entrando na
barraca, aos poucos, como fez a Raquel. Tirando as peças de roupa
uma a uma para deixar do lado de fora da barraca.
Até
que consegui entrar totalmente na barraca e ficar só de cueca.
Fechamos o avanço e ainda começamos a arrumar a bagunça. Mas logo
percebi que nem de cueca podia ficar, pois até esta estava molhada.
Então nos perguntamos, para que servem estas roupas e botas
impermeáveis se ficou tudo, absolutamente tudo que estávamos
vestindo, molhado????
Raquel olhou
pra mim e percebi que não estava com uma cara de muitos amigos...
-"Você está tão séria... Aconteceu alguma coisa?"
"- Não, está tudo ótimo, exceto que todas as minhas roupas estão encharcadas, todos os meus músculos estão doendo, ainda temos muito que caminhar amanhã! Está tudo perfeito!"
Depois
de colocarmos tudo para dentro, colocamos as poucas roupas que tinham
ficado secas.
Bem, Raquel usou a mesma da caminhada pois apenas o biquini resistiu intacto ao temporal. Logo o biquini!!
A noite prometia ser fria. Já era por
volta das 18 horas, quando decidimos deitar um pouco para relaxar o
corpo depois de tanto carregar peso, enquanto do lado de fora só
chovia. Raquel perguntou se não entraria água na barrava. Garanti
que não entraria, a menos que fossemos carregados por uma enxurrada
do rio Aiuruoca.
Esticamos os casacos impermeáveis e uma calcinha (a menos olhada) para
podermos usar no dia seguinte em cima das mochilas que ficaram em pé no meio dos nossos pés.
Conversa
vai, conversa vem e quando olhamos o relógio, já eram 21 horas.
Decidimos então dormir para acordar mais dispostos a caminhar a outra
"metade" da travessia. Dormimos ouvindo o barulho da chuva
e do rio Aiuruoca.
Acordamos
com uma manhã linda no nosso segundo dia de travessia.
Tomamos
nosso café da manhã, do jeitinho que a Raquel gosta. No chão,
mato, estilo piquenique. Curtimos um pouco o local, que por sinal era
bonito demais. Ao fundo, de frente para porta da barraca podíamos
ver a Cachoeira Aiuruoca e, descendo um pouquinho(uns 20 mts)
tínhamos nossa fonte de água natural para começar o dia.
Terminamos o café e decidimos colocar algumas coisas para secar no
sol que timidamente estava querendo se mostrar.
Começamos
tirar as coisas de dentro da barraca para desmontar e arrumar na
mochila. Quando olhamos o tanto de coisa para arrumar bateu um
desânimo. Mas, aos poucos, fomos conseguindo colocar as coisas em
ordem e dentro da mochila. A parte boa é que as roupas que
precisávamos usar hoje secaram, mesmo com
poucas horas de sol. O planejado era sair o mais rápido possível pois tínhamos que
chegar ao final da travessia antes de anoitecer. Nas regras do
parque, teríamos que estar na portaria de saída até as 17 horas.
Tudo
arrumado, enchemos nossas garrafas de água e partimos para o nosso
segundo dia de caminhada!
Imaginava eu que já tínhamos atravessado toda a Serra Negra. Mas
estava enganado. A partir daquele ponto ainda foram muitas subidas e
descidas. Passamos por alguns pontos marcados no GPS, como a cabana e
porteiras. Encontramos
com duas vacas na trilha a nossa frente e que cada vez que chegávamos
perto elas fugiam. Parecia que iram nos acompanhar por muito tempo na
trilha. Coitadas, ficariam perdidas das outras. Mas até que num
determinado momento consegui ultrapassa-las e direciona-las de volta
para a cabana, onde estavam as outras vacas. Passamos pela porteira e
então deixamos aquele lindo vale onde acampamos.
Começamos a subir
e descer montanhas até finalmente chegarmos a tão falada área do
matão. Foi nossa primeira civilização desde a saída da portaria
marcão. Encontramos a pousada da Sônia, onde a maioria dos
aventureiros pernoitam, quando não querem acampar e ter que carregar
um enorme peso nas costas, como nós.
A princípio, pensamos em não levar barraca nem saco de dormir e
acessórios, pois poderíamos dormir na pousada.
Mas
para nós, a melhor parte seria acampar sozinhos na paz e silêncio
da montanha, onde os únicos barulhos seriam só a chuva, os pássaros
e o rio. Tínhamos medo de não conseguir chegar a tempo na pousada e
ser obrigado a acampar no mato mesmo, por isso também decidimos levar todo o equipamento de camping.
Logo
que chegamos na entrada da pousada decidimos descansar um
pouco. Repousamos as mochilas em uns sacos de areia de obra que
estavam por ali. Logo apareceu um guia muito simpático que começou
a conversar. Perguntamos se já tínhamos
passado pela subida da misericórdia. Ele disse que ainda não e que
era a próxima subida que teríamos. Bateu um desânimo e pensei
talvez de fazer esta subida só no outro dia, na segunda feira. Mas
Raquel não queria de jeito nenhum dormir ali na pousada porque não queria adiar o término da travessia. Já tinha chegado até ali, então
queria seguir em frente e terminar logo.
Não
sabíamos exatamente quantos kms já tínhamos andado até ali e nem
quanto faltava. O guia nos informou que ainda faltavam 12 kms.
Concluímos então que tínhamos caminhado 20kms. Raquel achou
demais. Que não podíamos ter caminhado isso tudo só no primeiro
dia. Mas a travessia tinha 32 kms e faltavam 12??? Enfim, continuamos
sem saber ao certo quanto tínhamos andado. Só que faltavam 12kms.
Só 12.
Quando
descobrimos que ainda tínhamos que subir a misericórdia, pensamos
em pedir um táxi para ir embora dali.
Quanto
seria o táxi? O guia disse que ele até faria o nosso transporte,
mas naquele dia não poderia. Mas que em média sairia uns 300 reais.
Raquel olhou para mim e disse: Então vamos continuar a travessia. De
táxi não. Se chegamos até ali era para terminar a travessia. Não
poderíamos fazer pela metade. Concordei. Mas antes de sair, checamos se os celulares pegavam, já que estávamos perto da civilização,
mas nada de sinal. Perguntei ao guia se tinha telefone na pousada e
ele disse que tinha sim e que poderíamos usar, pagando uma taxa de
R$5,00. Fomos então telefonar, na verdade, Raquel foi telefonar.
Falei para ela que tinha que ligar rápido pois estávamos de favor e
o objetivo era só dar um sinal de vida. Mas de que adianta? Queria
contar toda a travessia naquele momento.
Foi então que algumas dúvidas
surgiram. Um cheirinho maravilhoso de comida vindo da pousada. Uns
outros aventureiros na pousada, aguardando almoço e outros dormindo
ainda com as roupas secando no varal. Porque não poderíamos parar ali, comer e colocar tudo para secar e ainda dormir confortavelmente
para subir a misericórdia só no outro dia? Porque Raquel queria ir
embora de qualquer jeito. Só almoçar não daria tempo. Já era 1 da
tarde e ainda tinha 12kms e a misericórdia para subir. Chegaríamos
muito tarde em Maromba. Acho que com pena da gente, o guia nos falou
que há um atalho para subir a misericórdia, que os tropeiros
fazem para transportar queijos e outros produtos. Nos apontou a
subida da misericórdia e disse que o caminho normal seria seguir
um trecho de estrada por ali e depois começar a subir a tal
montanha. Era alto o negócio. Seriam acho que 2kms de subida e mais
um tanto até chegar a subida. Por este atalho, economizaríamos,
segundo ele, 1,5 km. Ficamos empolgados com esta possibilidade, mas
logo veio a lembrança de "atalho", o atalho que nos fez
ficar perdidos por 5 horas no mato tentando voltar a pedra do altar
pelo circuito dos 5 lagos. Perguntamos a ele se era tranquilo, bem
marcado e tal. Ele disse que sim. Que os tropeiros passam muito então
a trilha é bem marcada. Sigam sempre pela trilha do meio. Vão
encontrar desvios mas não entrem. Um dado momento vocês vão
encontrar a trilha original da misericórdia. Que ótimo, então
vamos subir só este trecho e estaremos no topo da misericórdia!!!
Que ótimo, eu pensei. O guia (Gilson) foi muito solicito e nos levou
até o início da
trilha. Agradecemos e seguimos adiante, com a dica de sempre sempre
seguir em frente. A trilha era realmente bem marcada.
Começamos então a tão falada subida da misericórdia. Começamos bem, achando até que terminaríamos em 1:30 como o guia disse. O começo era tranquilo e tinhamos ganhado um gás ao parada na pousada. Subimos, subimos e subimos até encontrar a trilha original, quando o negócio começou a ficar feio. As subidas, alternadas com raros trechos planos eram muito íngrimes e intermináveis. Quando faltava 500 mts para o fim, não consegui manter um ritmo e tinha que parar a cada 30 mts para descansar pelos menos 1 min. Este ultimos 500 metros pareciam intermináveis. Só víamos o alto todas as montanhas ficarem para baixo.
A paisagem era linda e tivemos o previlégio de ver orquídeas que só dão flores nas alturas.
E
finalmente chegamos, caminhando e parando a cada 30 mts, na parte
mais alta da montanha. Paramos um pouco para descansar e comer alguma
coisa, afinal de contas ainda nem tínhamos almoçado. Raquel
conseguiu comer 4 pães enquanto eu ainda mastigava o primeiro. Minha
vontade de comer, ou pelo menos comer o que tínhamos ali, era
mínima. Só consegui comer 1 pão e uma barrinha de chocolate. O
frio começou a ficar intenso, ventava muito. Parecia que ia chover.
Então decidimos descer logo.
Logo
no começo da descida, paramos novamente para ir ao "banheiro" e decidi
tomar um remédio para dor, pois minhas costas estavam doendo demais.
Felizmente,
não choveu, mas começou a escurecer. Para não termos que parar novamente, colocamos as lanternas de cabeça e deixamos as lanternas
de mão no bolso.
Continuamos
nossa descida até Maromba, só que agora na calada da noite. Não é
aconselhável que se faça esta travessia noite, mas já estávamos na
reta final. Trilha muito bem marcada e
só descida.
Quando
realmente ficou bem escuro, sentamos um pouco, desligamos as lanternas e apreciamos a escuridão e o céu estrelado. Ouvíamos apenas o barulho da
natureza.
Seguimos
nossa descida, erramos alguns pequenos trechos e de repentecomeçamos a ver alguma civilização.
No
último km ouvi pela primeira vez da Raquel que não estava
aguentando mais. Esse finalzinho estava realmente bem penoso. Parecia
que nunca chegaríamos a praça de Maromba, onde deixei o carro para
ser pego na volta. Perguntamos umas 3 vezes se estávamos indo na
direção certa, pois a trilha no GPS já tinha acabado.
Finalmente,
a civilização foi aumentando e chegamos na praça de Maromba. Nunca
foi tão bom ver o carro.
Tiramos
as mochilas e as botas e as jogamos no carro!! Ufa!! Livres do peso!! Eu estava faminto. Não almoçava desde o primeiro dia
da travessia. Decidi que comeríamos uma pizza num restaurante bem em
frente ao carro. Raquel ficou um pouco
preocupada porque achou que não deixariam a gente entrar. Estávamos
um "pouco sujos". Tiramos a bota e fomos comer. Nos hospedamos na
primeira pousada que vimos e pedimos um quarto. A única pergunta
que fizemos??
"Tem uma cama e um chuveiro quente??"
Banho quente e cama! Apagamos!
Acordamos às 9:30. Os músculos e os pés ainda doiam... Tomamos café e fomos passear pela cidade.
Almoçamos na cidade vizinha: Visconde de Mauá.